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segunda-feira, 31 de março de 2014

Notas sobre a história do vôlei


Por Elaine Tavares

Quando William George Morgan, um então jovem professor de Educação Física da Associação Cristã de Moços, nos Estados Unidos, começou a pensar um jogo novo, coletivo, que não envolvesse contato físico entre os jogadores, evitando assim a violência no esporte, o seu país estava envolvido em um jogo muito mais pesado: a política de intervenção em Cuba. Desde o anos de 1868 que os nativos de Cuba lutavam contra o domínio espanhol. A ilha ainda era uma colônia e sonhava com a autonomia. Para garanti-la iniciou o que ficou conhecido como a Guerra dos Dez Anos, que acabou em fracasso, não resultando em libertação. Por conta disso, os cubanos voltaram a carga em 1879, também sem sucesso.

Foi em 1895, o mesmo ano em que Morgan finalmente inventa o seu jogo novo, ( o mintonette, mais tarde chamado de voley boll) que os Estados Unidos decidem iniciar uma guerra contra a Espanha, prometendo com isso libertar de Cuba das garras do país europeu. Mas, não havia aí nenhuma bondade ou altruísmo. Os Estados Unidos queriam libertar Cuba para então tomarem, eles, a posse da ilha, como de fato aconteceu. É nesse contexto que desponta uma figura emblemática para a América Latina: o poeta e jornalista José Martí, um dos mais importantes intelectuais cubanos, que alertavam para o perigo dos Estados Unidos e a necessidade de Cuba se libertar por suas próprias mãos, sem ajuda do vizinho poderoso.

E foi enquanto esse jogo político se desenrolava no Caribe, que o campo da Educação Física ganhou essa nova forma de jogar bola. A Associação Cristã de Moços, onde trabalhava Morgan, era uma entidade nascida em 1844, na cidade de Londres, que visava oferecer um ambiente saudável aos jovens que chegavam à capital em busca de trabalho. Ali, eles recebiam aulas sobre a bíblia e praticavam atividades físicas, como uma forma de evitar a “vida das ruas”. Essa ideia rapidamente se espalhou e chegou aos Estados Unidos em 1851. Tinha como base a proposta de que o esporte podia servir como elemento fundamental na educação dos jovens. Pois foi nessa instituição que nasceu o vôlei.  

Naqueles dias, no início de 1895, o esporte que mais agregava os jovens nos Estados Unidos era o basquete, criado quatro anos antes. Mas, para os mais velhos, a correria e a competitividade individual do basquete aparecia como muito cansativa e violenta. Por isso, Morgan, a pedido do pastor que dirigia a ACM, começou a matutar sobre uma nova modalidade de esporte. Foi assim que ele pegou uma rede de tênis, a bexiga de uma bola de basquete e inventou um jogo no qual os jogadores ficavam em campos distintos, separados pela rede (que tinha 1metro e 98cm de altura), precisando cumprir algumas regras. "Em busca de um jogo apropriado, ocorreu-me o tênis, mas seria necessário raquetes, bolas, uma rede, entre outros. Por isso eliminei alguns objetos, mas a idéia de uma rede pareceu-me uma boa. Erguemos ela para uma altura de cerca de 6 pés, (1,98 metros) a partir do solo, logo acima da cabeça de um homem de estatura média. Precisávamos de uma bola e entre aqueles que tentamos foi uma bexiga usada nos treinos de basquete, mas esta foi muito leve e deixava o jogo muito lento. Depois tentamos a bola de basquete, mas ela era muito grande e pesado demais para a prática do jogo. O jeito foi invetnar e mandar fazer uma bola que se adequasse", relembrava Morgan, tempos depois, o nascimento da modalidade.

No começo, o jogo ficou restrito ao ginásio da cidade de Holyoke, onde Morgan era diretor, mas logo depois de uma apresentação do jogo em uma universidade, outras cidades começaram a adotar a modalidade. Foi aí que o esporte mudou de nome, de mintonette para volley boll, já que a regra básica era de que a bola “voasse” por sobre a rede. No ano seguinte o esporte já era reconhecido e tinha suas regras bem determinadas. 

E, assim, enquanto os Estados Unidos consolidavam sua vitória contra a Espanha e José Martí – o herói cubano da independência - caia morto na sua primeira batalha, o esporte criado na ACM ia se popularizando. Em 1900 chegou ao Canadá e depois na China, Japão, Filipinas e México, sempre através da ACM que, igualmente, se espalhava pelo mundo.

Na parte baixa da América o primeiro país a conhecer o vôlei foi o Peru, em 1910, quando uma missão governamental estadunidense veio organizar a educação primária por ali. No Brasil a data de chegada do vôlei foi o ano de 1916, também através da Associação Cristã de Moços, já bastante popular no país. Mais tarde, o esporte foi sendo introduzido nas escolas, estando mais ligado às meninas que aos meninos, que preferiam futebol. Com o tempo, a prática se fortaleceu, sempre como uma atividade de lazer, mas, em seguida começaram a aparecer os campeonatos, sendo que o primeiro mundial foi na cidade de Praga, na Tchecoslováquia, em 1949. No ano de 1962, o vôlei passou a ser admitido como um esporte olímpico, perdendo aí um pouco do seu objetivo primeiro que era o de proporcionar uma recreação sadia e sem violência. Com a lógica da competição, o esporte sofreu mudanças, exigindo preparo físico mais apurado, técnica e força.

A popularização do vôlei fez com que também entrassem na jogada os interesses econômicos. Empresas começaram a investir nos jogadores, ou na criação de times. As emissoras de televisão passaram a transmitir e novas mudanças nas regras  aconteceram visando se adequar aos variados interesses que agora tomavam conta da quadra. Assim, em 1990, na disputa da primeira Liga Mundial de Vôlei, até o prêmio saltava aos olhos: um milhão de dólares ao vencedor.

No ano de 1998, outras mudanças vieram para tornar o jogo mais dinâmico e mais rápido – por conta do interesse da televisão. Já não havia muitos vestígios do velho jogo de lazer que Morgan inventara. Hoje, o esporte movimenta milhões em dólares e 218 países fazem parte da Federação Internacional.

Mas, apesar de todo o investimento no vôlei como um esporte de competição, no contexto do esporte educacional é possível recuperar a alegria e o prazer que tinham os primeiros praticantes em manter a bola no ar por pura diversão. É o que pode comprovar nas atividades do Centro de Referência Esportiva Rio Grande.

E já que começamos o nosso texto falando que o vôlei nasceu quando Cuba dava seus primeiros passos para a libertação, é bom lembrar que, hoje, a ilha tem uma das melhores equipes do mundo. Assim como o Brasil.

quarta-feira, 26 de março de 2014

O esporte na educação e na política pública


















Tem sido recorrente no Brasil, o uso do esporte junto as classes economicamente frágeis, com os argumentos de é preciso tirar das ruas os menores ditos "carentes", para evitar que se tornem presas fáceis da marginalidade. Mas, a tônica dos projetos está - no mais das vezes - amparada muito mais no medo da sociedade do que na intenção de realmente atuar junto às crianças proporcionando outra perspectiva para a prática esportiva. É justamente essa a discussão que apresenta o texto de Alba Zaluar, ao analisar alguns projetos esportivos criados nos anos 80.

Segundo ele, foi aí que começou a surgir uma prática que se diferenciava da velha lógica da eugenia e da segurança nacional. Ele analisa criticamente dois projetos importantes da época - Priesp e Recriança - e verifica o que realmente está em questão: se o bem estar da criança ou se não passa da tentativa bem-intencionada de evitar a "violência" das ruas. Nesse texto pode-se também tomar contato com o conceito de "criança comunitária" em vez do conservador "criança carente", o que muda sobremaneira a forma de encarar o esporte e a educação física nas comunidades de baixa renda. Zaluar ainda discute teoricamente a concepção de lazer na sociedade moderna, diferenciando como isso se dá nos diferentes grupos sociais. Diferentemente da lógica do esporte como negócio ou como competição, o lazer está associado à educação e consegue trabalhar conceitos como solidariedade, partilha, generosidade, inculcando a ideia de que a atividade esportiva está visceralmente ligada a alegria e ao prazer coletivo.

Do ponto de vista pedagógico, Zaluar discute também como as classes subalternas vão incorporando através de determinados projetos a ideia de que as competições e os torneios são coisas boas, sendo portanto incentivadas ao egoísmo, ao individualismo, à busca de glória pessoal. São duas concepções bem demarcadas de como encarar o esporte que valem a pensa ser conhecidas e, apesar de ser um texto dos anos 90, mantém sua vitalidade e capacidade de suscitar a reflexão. A luta de classe, as saídas individuais através do esporte e a proposta de um esporte ligado a educação passeiam pelo texto e provocam o pensamento crítico. Vale a pena ler e observar se determinados "equívocos" seguem sendo cometidos em projetos de natureza popular. 

Leia na íntegra o texto de Alba Zaluar

https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/115599/o%20esporte%20na%20educa%C3%A7%C3%A3o.pdf?sequence=1

sexta-feira, 21 de março de 2014

Subterrâneos do futebol

Vídeo produzido em 1965 sobre os jogadores e seus sonhos de sucesso, assim como as particularidades da vida do futebolista profissional e a paixão dos brasileiros por esse esporte. O filme levanta a problemática dos jovens que visualizam no futebol a grande chance de ascensão social, riqueza e fama. Entrevistas com jogadores e treinadores mostram as dificuldades e obstáculos, a competição, a violência, a estrutura econômica e política dos bastidores do futebol. Também trata do torcedor e mostra como a paixão pelo futebol leva milhões de brasileiros à loucura e, muitas vezes, à alienação.

O trabalho, que recupera a memória do futebol,  foi realizado há quase 50 anos e muitos dos seus temas ainda são candentes. Vale ver. Texto de Celso Brandão e direção de Maurice Capovilla. O chefe de produção foi Vladmir Herzog, mais tarde morto pela ditadura militar.

Os donos do Rio - o legado da Copa 2014


Para quem atua na órbita do esporte que é vida, que é educação, esse é um bom trabalho para refletir o que o sistema capitalista fez com o esporte na atualidade. Esse vídeo revela o controle da cidade do Rio de Janeiro pelas grandes empreiteiras, tendo o estádio como caso emblemático das ligações perigosas entre empresários e governantes. Ele faz parte da campanha "Quem são os Proprietários do Brasil?", realização Instituto Mais Democracia, apoio Fundação Rosa Luxemburgo.


terça-feira, 18 de março de 2014

Reunião com pais compartilha resultados






No dia 10 de março, a sala ficou pequena para receber as famílias dos mais de 800 alunos que participam do projeto de esportes do Centro de Referência Esportiva Rio Grande. Foi o momento de os professores e coordenadores prestarem contas do trabalho e de estreitarem os laços com os familiares daqueles com os quais passam boas horas, cheias de atividades e promoção de saúde.

Durante o encontro, mais uma vez foi apresentada toda a proposta do trabalho que é realizado cotidianamente com a gurizada.  Os coordenadores explicaram o que são as oficinas esportivas que acontecem todas as semanas, os eventos mensais, as festividades de esporte educacional, as atividades complementares e a estruturação do núcleo de vôlei. explicaram aos pais e responsáveis a proposta do projeto que é justamente atuar com o esporte como solidariedade e alegria, evitando a lógica da competição e do sofrimento corporal. Atividade física tem de ser prazerosa, como depois todos puderam vivenciar no festival que aconteceu no dia 15 de março.  

Também foram divulgados os resultados do trabalho que se concretiza em números bastante significativos. Já são mais de 7.036 crianças e adolescentes atendidos em todo o projeto, que se espraia por nove municípios do Rio Grande do Sul. Uma semente vigorosa de esporte educacional espalhada por todo o estado, buscando outra lógica para as atividades esportivas. Afinal, uma criança não pode sofrer quando diante de um jogo ou um esporte. É preciso que a atividade esportiva seja esperada e amada. E é isso que os educadores procuram incentivar.

O projeto já realizou 13 eventos, sempre com ampla participação. Todos os alunos recebem uniformes, transporte e são incentivados a praticarem ações de cidadania como a limpeza coletiva dos espaços, o cuidado com a segurança e a educação para a vida. Todo o trabalho é realizado com a parceria da FUNSERG e do Sport Clube Rio Grande, que tem colaborado oferecendo seus espaços para as atividades, reestruturando muitos deles para melhor receber os alunos.

Ao final, todo mundo recebeu camisetas do projeto para levar no peito a ideia de que o esporte é saúde e espaço de diversão.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Festival de Esporte Educacional: uma prática da alegria





















Atividades reuniram pais e alunos 

O esporte como educação e saúde tem características que fogem do esporte competição, o qual acaba por tensionar até  o máximo os limites do corpo. Já o jogo como brincadeira leva as crianças a sentimentos como cooperação, alegria, solidariedade, importantes na construção de uma nova maneira de organizar a vida. Por isso que um dos objetivos do Centro de Referência em Esporte Educacional é, no geral, envolver as crianças e os adolescentes em espaços de práticas corporais brincantes, não competitivas, educacionais. Dessa forma, o corpo se movimenta sem a pressão de vencer, apenas com o intuito de aproveitar a vida e se encher de saúde. 

Um exemplo dessa postura foi Festival de Esporte Educacional, realizado no último dia 15 de março, na cidade de Rio Grande. O encontro é uma festa, muito mais do que espaço de observação do que foi aprendido ao longo das atividades do centro. É geografia de uma outra forma de encarar o esporte, envolvendo não só a criança e o adolescente que está vivenciando a aprendizagem de algum tipo de esporte, mas também os familiares, que podem brincar e compartilhar, obtendo ainda algumas orientações sobre formas prazerosas de exercitar o corpo.

E é justamente para proporcionar uma prática saudável de exercício do corpo que durante o festival são realizadas oficinas temáticas, com as mais variadas formas de brincadeiras e atividades físicas, tais como Alongamento, Capoeira, Slackline (brincadeira de malabarismo com elástico), Padel, Brinquedos Infláveis, Escolinha de Trânsito, Jogos Populares (Taco e Peteca), Biblioteca Itinerante, Caminhada Orientada e Atividades Desportivas. 

Esses são momentos marcantes, nos quais a comunidade se insere de maneira concreta nas atividades do Centro de Referência Esportiva e pode participar, ter orientação dos professores, além de ver com os próprios olhos a alegria dos filhos, sobrinhos e netos, que vivenciam as atividades do centro. Nessa sexta edição do Festival  278 pessoas estiveram envolvidas nas práticas e brincadeira, 178 eram alunos ligados ao projeto, e outras 100 eram familiares, que puderam desfrutar em comunhão. Foi um dia em que os sorrisos se fizeram presente muito mais do que a tensão que se gera em espaços de competição. Em atividades assim, todos saem felizes por afinal, todos saem ganhando.

Apoio: Secretaria de Município de Mobilidade Urbana e Acessibilidade, Secretaria Municipal  de Educação e Cultura, FURG, Prof. Petter Ramos, Colaborador Padel, Capoherança, Secretaria de Município de Habitação e Regularização Fundiária


sábado, 1 de março de 2014

Corpos brincantes





















No dia 22 de fevereiro, o Complexo Aquático do Sport Club Rio Grande, foi espaço para o I Festival de Natação do Centro de Referência Esportiva Rio Grande - RS. Corpos brincantes, esporte educacional. Foram realizadas oficinas de esportes com bola, atividades com bote e mergulho. As atividades foram coordenadas pelo professor Luis Gustavo de Oliveira e pela estagiária Anaira Ramos. Teve ainda o apoio dos professores Peter Botelho e Jones Correia, na realização das oficinas de Mergulho e Bote, respectivamente. Para o professor da modalidade, Luis Gustavo, " eventos como esses são de extrema importância para a manutenção das propostas do projeto, uma vez que, inserem alunos e comunidade juntos às ações do Centro de Referência Esportiva."

Para o mês de março estão previstos ainda a realização do VI Festival de Esporte Educacional e o I Festival de Boxe. — em Sport Club Rio Grande.
A proposta é justamente trabalhar o esporte numa perspectiva que vai além da competição. É alegria, brincadeira e saúde.