Por Elaine Tavares
Eliane é frágil e pequena demais para jogar vólei, o esporte que a escola decidiu adotar nas aulas de educação física. Como as aulas são obrigatórias, ela não tem escapatória, precisa comparecer. Durante os jogos, o sofrimento é contínuo. Ela não consegue dar um saque eficiente, é incapaz de fazer bloqueios e o sonho da cortada perfeita não tem qualquer chance. O resultado de suas infrutíferas tentativas é o escárnio e a humilhação. Quando é dia de aula e são formados os times, todos fazem figa para não ter que ficar com a pequenina. E os que são “sorteados” reclamam sem parar. Em casa, Eliane chora. Inventa mil doenças para não participar das aulas de educação física e, cada dia que passa, o esporte assume para ela o aspecto de uma tortura. Mais tarde, já crescida, ela é só mais uma que foge do esporte como o diabo da cruz. Nunca conseguiu realizar práticas esportivas que fossem cooperativas e solidárias. O resultado dessa trajetória é uma vida sedentária e despida de atividades físicas.
Pois todos esse sofrimento vivido por Eliane não precisa mais ser vivenciados por outras crianças, porque hoje já existem outras metodologias de ensino na educação física. Uma delas é a proposta do esporte educacional, que busca a participação ativa de todos os jogadores, superando as causas da exclusão. Nesse processo, uma garota pequenina pode jogar vôlei, desde que o professore orientador encontre, junto com ela, uma forma de atuar no jogo que não exija fundamentalmente a altura. O mais importante é a integração e a cooperação solidária, sem chacotas nem humilhações.
O Centro de Referência em Esporte Educacional de Rio Grande atua desde 2013 envolvendo mais de 600 crianças e adolescentes em um projeto de esportes que se ampara na proposta do esporte educacional. Isso significa que a finalidade das atividades esportivas realizadas não é a competição nem a lógica do rendimento corporal levado ao limite das forças humanas. Pelo contrário, a proposta é democratizar a prática desportiva gerando uma nova cultura, na qual o individuo atua na relação com os demais e com a natureza. A formação corporal está mais ligada ao lazer a ao exercício crítico da cidadania, buscando construir uma sociedade livremente organizada, cooperativa e solidária. Um proposta muito mais universalista do que a de competir individualmente buscando vitórias isoladas da realidade social da comunidade.
A proposta do esporte educacional se ampara em cinco princípios básicos: autonomia, inclusão, construção coletiva, educação integral e respeito à diversidade. E é a partir desses elementos que todas as ações do CRE Rio Grande são realizadas. Durante as dezenas de atividades com pelo menos seis tipos de esporte o objetivo primeiro é criar condições para que as crianças e os adolescentes participem das brincadeiras, integrando cada um no processo de ensino e aprendizagem do esporte. Professores, alunos e comunidade são co-participantes, interagem, construindo as atividades de forma coletiva. Os professores são capacitados para perceber, reconhecer e valorizar as diferenças entre as pessoas, fazendo com que os jogos tornem-se prazer e não sofrimento.
O esporte, dentro desta proposta é visto como um meio para a constituição de uma educação emancipatória, superando assim a lógica hegemônica que vigora, e que torna o esporte um espaço de exclusão, violência, sexismo e elitismo, com a imposição de um modelo, muitas vezes gerado pela mídia, sem ligação alguma com a vida real.
No contexto do esporte educacional, a prática desportiva é encarada como jogo, de modelo aberto, diversificado, imprevisível, espaço de ousadia, de risco, de criação coletiva, motivado pelo envolvimento do grupo. Já na lógica do esporte como exercício de modelagem do corpo ou de competição o modelo é fechado, previsível, mecânico, automatizado, desinteressante e individual. Assim, nas atividades do CRE os elementos que definem um bom jogo, ou uma saudável prática esportiva, são aqueles que possibilitam a participação de todas as crianças, com suas habilidades diferenciadas, que mantêm a imprevisibilidade, que permitem adaptações, novas aprendizagens e auto gerenciamento dos jogadores, bem como permite o sucesso de todos os participantes. Nesse sentido, todos sempre são ganhadores e não é gerado nenhum sentimento de inferioridade ou exclusão.
No contexto do esporte educacional, a prática desportiva é encarada como jogo, de modelo aberto, diversificado, imprevisível, espaço de ousadia, de risco, de criação coletiva, motivado pelo envolvimento do grupo. Já na lógica do esporte como exercício de modelagem do corpo ou de competição o modelo é fechado, previsível, mecânico, automatizado, desinteressante e individual. Assim, nas atividades do CRE os elementos que definem um bom jogo, ou uma saudável prática esportiva, são aqueles que possibilitam a participação de todas as crianças, com suas habilidades diferenciadas, que mantêm a imprevisibilidade, que permitem adaptações, novas aprendizagens e auto gerenciamento dos jogadores, bem como permite o sucesso de todos os participantes. Nesse sentido, todos sempre são ganhadores e não é gerado nenhum sentimento de inferioridade ou exclusão.
É por conta disso que os educadores estão sempre buscando dinâmicas que evitem qualquer constrangimento para as crianças envolvidas, que valorizem o esforço pessoal de cada um, mas sempre integrando ao grupo. Para que isso aconteça os jogos nunca são muito fáceis, nem muito difíceis. São desafiadores, logo, motivam os jogadores a investir esforços para aprimorar a brincadeira. Daí a importância da cooperação como princípio básico. Se todos cooperam, os resultados chegam mais rápido. O que conta mais é a experimentação, a ousadia, a capacidade de criação. No esporte educacional os educadores não querem ensinar ninguém a ser Pelé, mas a encontrar a sua melhor forma de jogar.
Nas atividades desenvolvidas pelo CRE Rio Grande esses elementos têm sido os pilares do trabalho. Não é sem razão que as crianças participam com entusiasmo e alegria. Todas elas sabem que em cada brincadeira podem se aprimorar dentro das habilidades que possuem. Nada é imposto, tudo é dividido. Assim, busca-se construir também uma outra forma de agir na sociedade. Se em atividades tão lúdicas como os jogos esportivos as crianças aprender a ser solidárias e cooperativas, nas demais atividades da vida cotidiana isso vai aparecer e a vida pode ficar bem mais bonita.
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